terça-feira, 12 de maio de 2009

A CONSCIÊNCIA – PARTE I

As Erínias são as despersonificações dos remorsos. Quando se comete um crime, e sobretudo quando um filho ou um pai manchou as mãos no sangue dopai ou de um dos parentes, Elas não tardam e aparecer e fazer ouvir o seu canto funesto,rodeando o criminoso com sua ronda infernal, e brandando-lhe aos ouvidos um horroroso hino no qual Elas reconstroem o crime.Não há mortal que lhes possa escapar; perseguem-no por toda parte, como o caçador persegue a caça,e terminam sempre por atingi-lo. As súplicas e as lágrimas não as comovem. Mas se as Erínias são inclementes com os criminosos, o que tem as mãos puras nada tem a temer delas.
Anteriores a Zeus e aos deuses olímpicos, que elas dizem ser divindades de data recente, representam na opinião pública, a antiga justiça, a única que conhecem os povos primitivos, a lei de talião; a todo crie corresponde um castigo. As inexoráveis deusas, que não conhecem perdão nem ouvem os rogos, estão relegadas ao fundo das trevas; não deixam a sua tenebrosa morada senão quando o cheiro do sangue derramado e as imprecações da vítima às chamam à terra. Divindades desventuradas, jamais participam nos banquetes dos Imortais; mas são infatigáveis quando é preciso perseguir o mortal e não lhe dão tréguas.
O pintor ateniense Nícias compusera sobre as Erínias um quando assaz celebrado na antiguidade. Aparecem as vezes em vasos pintados.estão figuradas sob a forma arcaica no altar dos doze deuses, no Louvre. Seguram um cetro encimado por uma romã, símbolo de seu poder, e a sua mãe esquerda aberta significa a justiça cujas prisões executam. No Hades, as Erínias, Alecto, Tisífone e Megera têm por missão castigar os culpados e tirar-lhes toda esperança de misericórdia.
Nos povos primitivos, a idéia de clemência e de perdão só aparece tardiamente, porque parece incompatível com a idéia soberana de justiça. No entanto, chega um instante em que a consciência humana pergunta a si mesma se uma falta não pode ser expiada mediante certas purificações e práticas religiosas. Aliás, a hospitalidade é o mais santo dos deveres: os templos são asilos sagrados e dos deuses podem repelir os suplicantes. Em face das Erínias que reclamam o culpado em nome da justiça inexorável, erguem-se os deuses do Olimpo que pretendem , às vezes, conceder o perdão. Como determinar o ponto exato em que a justiça deve deter-se perante a clemência ?

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