quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Complexo de Hipólito


Me incomoda bastante essa idéia que algumas pessoas recém chegadas ao Hellenismos têm de ver os deuses como possibilidades de escolhas. Aquela impressão que eles têm de que precisam escolher um deus macho, uma deusa fêmea e após isso está tudo pronto. Como já disse em outros ensaios, a coisa não é bem assim.

Dentro do contexto das diversas religiões neopagãs contemporâneas e as religiões históricas reconstrucionistas podemos observar que há diversas linhas de concepção teológica. Há as linhas duoteístas, como no caso do Zoroastrismo persa  e da Wicca contemporânea, há as monoteístas, via de regra vinculadas à tendências ocultistas ou espiritualistas e há linhas politeistas, como no caso do Hellenismos.

Em geral após algum tempo as pessoas acomodam-se no culto de seus deuses paterno e negligenciam a visão e a experiência em outros deuses, o que eu chamo de Síndrome de Hipólito, que eu relembro aqui apenas a título de tornar isto mais compreensível.

Hipólito era filho de Teseu e fora criado com Fedra, sua madrasta. Era verdadeiramente leal à deusa Ártemis, de modo que como tal, conservara-se virgem e casto, desrespeitando as necessidades humanas de amor, presente na figura de Afrodite, chegando até mesmo a desrespeitá-la. Em punição Afrodite fez com que Fedra, sua madrasta, concebesse uma paixão louca por ele, no qual teve a empregada do palácio como sua cúmplice. Mas não teve sucesso em sua tentativa de seduzir o jovem, leal que era ao seu voto de castidade. Repelida, Fedra acusou Hipólito junto ao pai de tentar seduzi-la. Hipólito fugiu montado em sua biga. Teseu baniu da casa o filho e pediu a Posídon que que fizesse o filho perecer. Atendend-o, Posídon mandou contra Hipólito um montra marinho que espantou os cavalos de seu carro e o moço morreu despedaçado. Fedra enforcou-se de remorso.



Não quero sugerir com isso que todos devam cultuar a todos os deuses do panteão, porque afinal de contas isso também seria uma forma de insolênia, hýbris, desrespeito. Não se pode dizer, como no hábito cristão, mesmo que falsamente, que "amamos os próximos como a nós mesmos". Evidente que cada um terá deuses com os quais é mais próximo, e se sente reconhecido e agraciado pelo favor do deus, mas não se pode negligenciar a ação e a celebração em favor dos demais. Falar para um decsonhecido e para um amigo de longa data que você ama aos dois de igual maneira soa como um desrespeito e total desconsideração.

Apesar de distintos, os deuses têm uma natureza complementar. Com suas virtudes e vícios, podem ensinar sobre a vida um fato que aparentemente não pode ser bem entendido na figura de um outro. Sendo assim, podemos entender sobre a métis de Atena enquanto estudamos sobre a placidez de Apolo ou celebramos o entusiamo dionisíaco.  É preciso considerar os deuses não como formas arquetípicas ou objetos em especial. distantes do nosso plano de ação e experiência. Eles estãõ tão ou mais próximos da vida em si quanto nós. São seres reais e partes da vida que é o todo.

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