quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Danças Antigas Gregas

Segundo o blogger uma das postagens mais populares do ta-Hiera é justamente um texto que escrevi há alguns anos sobre as danças folclóricas gregas. Apesar de fazerem parte do conjunto de tradições populares, boa parte daquelas danças estão relacionada a uma concepção mais moderna da dança. Assim, proponho aqui uma leitura e apresentação das danças mais antigas. O texto seguinte é a tradução de um texto escrito Michel Lehanas, traduzido e editado por mim e apresenta algumas dessas danças que se perderam ou foram sendo atualizadas desde a antiguidade até a atualidade em outras formas de dança. Basta lembrar por exemplo as semelhanças entre o Hassapikos e o Geranos, ambas danças com um forte caráter marcial. Mas vamos à leitura!


As danças dos tempos antigos eram categorizadas como danças de guerra ou danças de paz, enquanto as danças mais tardias e próximas ao nosso tempo eram divididas em: danças teatrais, cultuais e religiosas, marciais, danças do Symposium – o banquete ritual –, danças de luto, entre outras. Cada tipo de apresentação – peças trágicas, cômicas ou satíricas – tinham suas danças características, algumas sérias e solenes, e outras com mímicas indecentes com adereços fálicos. No campo militar as danças eram importantes, e tinham uma ênfase que não se observa mais hoje em dia. Ainda assim, esse não é o ponto que nos interessa. Algumas das danças citadas nos textos antigos são as seguintes.  

As danças marciais com armadura são geralmente conhecidas com “Pyrrhiche”, dança pírrica. Essas danças marciais são parte da vase da educação militar tanto em Atenas quanto em Esparta, acompanhadas pelo som de uma flauta.
          Os quatro movimentos eram: o Podismo, que é a tomada de um movimento rápido, como os necessários para ultrapassar o inimigo (ou para fugir dele); o Xiphismo, ou luta simulada; o Kosmos, com saltos muito altos ou o treinamento para saltos sobre valas ou de muros; e o Teatracomos,uma figura quadrada com traçados lentos e majestosos. (L. Grove)

Há algumas danças armadas variantes e de diferentes origens:
·         Em Athenas, durante o festival das Panathenaias, havia concursos de dança. As danças eram associadas à Athena, que era considerada sua inventora.
·         De acordo com a mitologia cretense, os Kouretes protegiam Zeus quando criança de Kronos fazendo barulho com seus escudos e eram considerados os inventores das danças armadas. Em Creta havia uma dança com espadas associada aos Kouretes.
·         Na Eubeia havia uma dança militar em honra de Ártemis Amarysia (Ártemis de Amarynthus).
Uma outra possibilidade mitológica para a origem do nome: Pyrrus (também conhecida como Neoptolemo, um filho de Aquiles). Outras prováveis variações para a dança: Prylis (πρύλις), Telesias (τελεσιάς),...

Existem algumas versões de danças solo, ou individuais, que são chamadas monomachia ou skiamachia, como as lutas aos inimigos imaginários (que poderia ser descrito como as ações de um pugilhista). As roupas dos dançarinos geralmente descritas são de um colorido vermelho, ou tendo pontos vermelhos, simulando manchas de sangue, como provavelmente os espartanos utilizavam para fazer a dança mais “realista”. Isso pode ser explicado também por um outro nome dessa dança, “dança vermelha”.
 Algumas danças:

Gymnopaedia (Γυμνοαιδά) era a principal dança dos lacedemonianos, realizada anualmente na ágora de Esparta. “Sob o nome de ‘anaple’ garotos nus, moviam-se graciosamente ao som da música de liras, exibindo posturas e movimentos usados na luta e no boxe”(Elisabeth A. Hanley).

A gymnopaidia mencionada por Pausanias remota a vigésima nona olimpíada dos tempos antigos e aconteciam como muitas outras danças. Os líderes eram chamados de Tireáticos (Thyreaticos), em memória da vitória de Thyrea e trazia uma guirlanda de flores de palmas. Versos acompanhavam a dança.
O mais velho começa:

Nós já fomos jovens e felizes como vós
Valentes, corajosos e ativos também.

O jovem rapaz responde:

Agora é nossa vez, e vocês verão,
Vós nunca merecestes mais que nós.

Os meninos então respondem:

Virá o dia em que veremos
Talentos superarem tudo que podeis fazer

Os mythical (os coros) escritos por Dédalo para Ariadne no canto XVIII da Ilíada (v.590) ainda permanecem como um mistério e um termo ambíguo a preocupar os acadêmicos. Ele pode significar a dança coral ou o lugar mágico onde a dança é realizada, ou seja, a “pista” onde se dança. Os antigos pesquisadores interpretaram o coro como um lugar (topos), completo com colunas e estátuas organizadas em círculos. Recentemente descobriram uma estrutura circular em Cnossos que eram de alguma forma relacionada aos coros de Dédalo. Nos textos primitivos, o coro denotava a dança sem a indicação de uma “pista”. A dança existiu por si e permaneceu como um fenômeno temporal.  O significado da palavra continua em um lugar enigimático e sua importância reside na sua ambiguidade. (Omur Harmansah, “A Idade Arcaica e a Metamorfose da Cultura Grega”.)

Plasma um recinto de dança ainda o fabro de membros robustos
mui semelhante ao que Dédalo em Cnossos de vastas campinas
fez em louvor de Ariadne formosa de tranças venustas.
Nesse recinto mancebos e virgens de dote copioso
alegremente dançavam seguras as mãos pelos punhos.
Elas traziam vestidos de linho; os rapazes com túnicas
mui bem tecidas folgavam em óleo brilhante embebidas.
Belas grinaldas as fontes das virgens enfeitam; os moços
de ouro as espadas ostentam pendentes de bálteos de prata.
Ora eles todos à volta giravam com pés agilíssimos
tal como a roda do oleiro quando este sentado a experimenta
dando-lhe impulso com as mãos para ver se se move a contento
ora correndo formavam fileiras e a par se meneavam.
Muitas pessoas à volta o bailado admirável contemplam
alegremente. Cantava entre todos o aedo divino
ao som da cítara ao tempo em que dois saltadores a um tempo
cabriolavam seguindo o compasso no meio da turba.
 (Ilíada, Livro XVIII, 590-607 – Tradução de Carlos Alberto Nunes)


Geranos (Γέρανος) ou dança da içagem era feita em Delos. De acordo com Plutarco, Teseu depois de ter matado o Minotauro no Labirinto de Cnossos, no seu caminho de volta para Athenas, parou em Delos, onde ofereceu um sacrifício para Afrodite e dançou em volta do altar. Essa dança incluía movimentos serpentinos, imitando os movimentos de Theseu dentro do labirinto – essa mesma dança é mencionada por Homero na Ilíada. Alguns experts dizem que Teseu dançou o geranos em Creta e não em Delos.

Ierakio (Ιερακειο): uma dança feminina realizada em honra da deusa Hera.

Epilinios (Επιλήνιος): uma dança dionisíaca realiza no topo dos tonéis de vinho enquanto pisavam as uvas com seus pés.

Emelia, ou Emmeleia, (Εμμέλεια): uma dança trágica, melhorando os eventos encenados no palco.

Kordax, ou Cordax (Κόραξ) era a dança da comédia, era mal vista e geralmente considerada indigna para um homem sério.

Sikkinis (Σίκκνις) era a dança das peças satíricas, initando movimento de gatos e performada por sátiros.

Imeneos, ou Himenaios (Υμέναιος): dança do casamento. Era feita pela noiva com sua mãe e amigos. Era realizada com movimentos rápidos e muitas voltas e reviravoltas.

Hormos (Ορμος ή Αλυσίδα): de acordo com Luciano era uma dança comum aos homens e mulheres jovens que dançavam uns com os outros formando uma espécie de corrente. O líder era um moço jovem que mostrava suas habilidades de dança e marciais através dos movimentos. Uma moça jovem o seguia, dando um exemplo de solenidade e decência às demais mulheres. É considerada uma invenção de Licurgo.

Imporchina ou Hyporcheme (Υπόρχημα): uma combinação de dança e pantomima, canto e música de Creta. Meninos e meninas dançavam juntos cantando poemas em coro. Também era vista em Esparta.

Bibasis, uma dança espartana. “Consistia em saltar rapidamente do chão e erguendo os pés para trás (...). O número de movimentos e golpes bem sucedidos eram contabilizados e o rapaz mais habilidoso recebia algum prêmio. Nos é contado em um verso de Polux (v.102) que uma garota laconiana tinha dançado o bibasis mais de mil vezes, que havia sido mais do que qualquer um já houvesse feito antes”. (William Smith, A Dictionary of Greek and Roman Antiquities, 1875).

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Gostou do tema? Quer saber mais sobre dança no mundo grego? Leia os texto da Alexandra Nikasios: A dança como ritual: Parte I e Parte II 

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